O espaço que hoje se encontra urbanizado, entre a rua Dr. Figueiredo Sobrinho, parque “Milénio” e alameda D. Domingos de Pinho Brandão, era terreno agrícola, que em grande parte pertencia a José Pina, de Sela, da freguesia de Urrô.
O dito terreno de José Pina tinha como caseiro Eduardo Ferreira “Pintalhos”, morador em casa que já não existe (hoje um prédio com apartamentos, onde se encontra a funcionar, no rés do chão, a Escola de Condução Rainha Santa Mafalda), à face da rua Dr. Figueiredo Sobrinho (na época rua Darca), que numa parte da dita casa, tinha os currais dos seus animais domésticos, nomeadamente a junta de bois, com que lavrava os mesmos terrenos e transportava lenhas, matos, etc.
O proprietário dos bois resolveu vendê-los. Então negociou com Joaquim Teixeira Barbosa (o Capela), conhecido marchante na vila de Arouca, que os comprou, tendo levado o primeiro animal no dia 4 de Abril de 1939, para ser abatido na cidade do Porto.
Quem não gostou do sucedido foi o seu companheiro, que ficou no curral e que o dito marchante foi buscar logo na quinta-feira, dia 6, da parte de tarde. Quando era conduzido pelo “Capela”, com destino ao Matadouro Municipal, investiu contra ele, ferindo-o, e conseguiu partir a prisão, fugindo de seguida.
«Na rua de Arca investiu contra Manuel Gomes Teixeira, de Pinheiro, desta vila, a quem produziu ferimentos de muita gravidade. Depois seguiu pela estrada até ao adro da igreja de Moldes, aonde algumas pessoas tentaram prendê-lo, não o conseguindo. Voltando depois pela mesma estrada, foi até à Pedra Má, da freguesia de Várzea, sempre seguido por vários indivíduos, sendo ali atingido por um tiro, que o cegou, e por uma machadada que lhe deram numa das pernas, sendo então preso e logo abatido».
O boi foi sempre um animal muito manso, nunca investindo contra quem quer que fosse, como na altura se falava, mas com a saída do seu companheiro, tornou-se furioso.
Ainda foram feridas mais pessoas. «Em Moldes foram feridos, com certa gravidade, António Ferreira, de Paços, Custódio de Carvalho, de Santo Estêvão, e Francisco Gomes de Pinho o “Pelote”, da Portela, que deram entrada no Hospital desta vila, assim como César da Costa, mendigo, do Forno Telheiro, que foi calcado e marrado na rua do Burgo»[1].
Houve ainda outras pessoas feridas, mas de pouca gravidade.
O caso na época foi muito comentado, por inédito, nunca havendo notícia de ter acontecido em tempo algum, nada semelhante.
O boi fez uma “maratona” de perto de 15 quilómetros, até ser abatido.
Por: Alberto de Pinho Gonçalves
[1] Jornal Defesa de Arouca, n.º 689, de 8-4-1939.