Isto é a verdadeira Liberdade, quando homens nascidos livres, tendo que aconselhar o público, podem falar livremente.” Eurípides, poeta grego do Séc. V a.C.

A poucos meses das eleições legislativas, já começa, subtilmente, a “ferver” a campanha eleitoral. Promete ser um Verão quente e uma época em que os cestos só se lavarão lá para o final de outubro.

A informação veiculada pela comunicação social vai ser determinante para o processo eleitoral. Não tenho a menor dúvida de que existirá a tentação de todos os partidos, incluindo os do governo, de instrumentalizar a informação para dela tirarem benefícios conforme os seus interesses pouco claros e menos transparentes.

Umberto Eco, escritor italiano falecido em 2016, afirmou, no seu livro “A passo de caranguejo”, que manipulando-se a comunicação social consegue-se o que se pretende, principalmente quem está no governo, ou quem o pretende atacar ferozmente. Segundo ele, o último a falar tem sempre razão: uma das estratégias de quem está no governo é, após a apresentação de um projeto, ouvir primeiro as objeções da oposição e só depois contra-argumentar, tendo em vista esvaziar os argumentos da mesma. Há opiniões diferentes, nomeadamente, quem fala primeiro leva os outros atrás.

Assim, existe alguma comunicação social pouco escrupulosa que tende a retratar a realidade de acordo com interesses e conveniências. Este retrato é desafiante se tivermos em conta a quantidade e velocidade da informação que caracteriza o nosso tempo. Assim, os meios audiovisuais estão condenados a ficar pela rama das coisas. É uma realidade triste. Os telejornais divertem mais do que informam a verdade. Já não falo de programas desportivos! Como a informação é quase um entretimento a capacidade crítica dos jornalistas é muito escassa. Aos nossos políticos, sejam eles quais forem, não interessa uma sociedade esclarecida, pois o político espetáculo deixa de fazer sentido.

Se o leitor estiver atento a uma entrevista, quando o entrevistado está a esclarecer uma ideia, com alguma profundidade, há jornalistas que cortam o raciocínio. Qual a razão? Simples: um assunto esclarecido deixa de ter interesse. Não ficando esclarecido o ouvinte fica sempre amarrado à televisão ou à rádio na expetativa de novos factos.

Para mim é preocupante a falta da capacidade crítica dos jornalistas. Muitos bastante mal preparados não dominando os temas a que se propõem debater. Não sei quais as razões, nem tenho grande interesse em saber. Todo o jornalismo deve ser sempre de investigação e não apenas uma especialidade e a ética acompanhar como parceira permanente como a unha e a carne.

Por que os jornalistas não são persistentes em denunciar casos de corrupção, muitos deles ficando esquecidos? Porquê permitir-se publicar tantas fake news que induzem em erro as pessoas pouco esclarecidas, a grande maioria, não sendo desvendadas com veemência?

O jornalismo poderia dar um contributo extraordinário para o desenvolvimento da nossa democracia que precisa de uma grande mudança de mentalidade da sociedade. A comunicação social tem a responsabilidade do que se exige aos tribunais, a verdade, toda a verdade! Até outubro terá essa oportunidade.

Texto de Carlos Matos