“– Ando mal senhor doutor!
– Ai sim!
– Sonhos estranhos, sete noites seguidas. Sonho que me chamam corrupto!
– Corrupto?
– Sim e sou achincalhado na praça pública! Porquê estes sonhos, senhor doutor?
– Diga-me uma coisa. Tem visto as peças daquele Jornalismo de Investigação da TVI?
– Sim.
– Tem lido as da Visão e do Observador?
– Sim.
– Está aí a explicação.”
O Interpretador de sonhos
Nos alvores deste mês tive uma estranha semana, sete noites e sete sonhos, a mesma narrativa mas com personagens diferentes, a única que se repetia era eu. A história era basicamente esta: a CDU tinha conquistado a Câmara Municipal de Arouca em 2017 e eu era acusado, na praça pública, de compadrio, corrupção e vigarices várias.
Na primeira noite era por causa do meu tio Manel, que tem uma casa de pneus, e tinha vendido uns pneus recauchutados, para um velho Renault Clio, e feito um desconto… a um camarada meu dirigente regional do PCP.
Na segunda noite era o meu café da manhã, diariamente tomado no Café Amizade, em frente aos Paços do Concelho, um café cujo filho do proprietário namorava… com a minha filha.
Na terceira noite a razão era o arranjo das bicicletas turísticas, as Arouca Buga, (duas correntes e três afinações de travões no chuvoso mês de Abril), cujo concurso de manutenção tinha sido ganho pela oficina do Carlitos… que era meu camarada.
Na quarta noite o assunto era a cedência do Pavilhão Municipal para um jogo-treino de Voleibol entre o Centro Juvenil e o Feirense, sendo o Feirense treinado… pela minha esposa.
Na quinta noite era o facto da Câmara ter comprado material de escritório a uma empresa de mobiliário e decoração, a mesma empresa onde… o meu irmão e a minha cunhada são responsáveis de departamento… na Suíça.
Na sexta noite a matéria tinha a ver com o seguro dos funcionários da Câmara ser de uma seguradora, onde o meu tio Quim (militante do PCP), já reformado,… fora responsável de vendas do distrito de Aveiro.
Na sétima noite era o Presidente da Câmara ser comunista e ter desvios burgueses… andar por aí numa trail seis e meio, marca japonesa, em vez de uma Casal de duas.
Raio de comunas… e depois falam dos 20.000.000 de euros oferecidos à Banca.
Texto de Francisco Gonçalves