OPINIÃO | AI, FRANÇA, FRANÇA

Como a desilusão é filha da ilusão,
Não te iludas se não te queres desiludir”

Mandamentos da descrença


Sendo certo ser a ilha, a dos anglo-saxões, que está na ordem do dia, é da França, mais uma vez, que sopra o vento do que aí vem, em boa verdade do que já aí está – a cidade do consumo e o cidadão-consumidor. No caso da ilha, vale a ideia do Medeiros Ferreira, no seu derradeiro livro, a “Construção Europeia” mais não é do que uma sucessão de tratados comerciais, assentes na correlação de forças das potências num dado momento. Por isso, mais tarde ou mais cedo, um qualquer acordo comercial será celebrado.
Mas é sobre o cidadão e a cidade do século XXI que se pretende, aqui, deixar um breve registo. Estava o milénio a virar (1998), quando Michel Houllebecq, ainda sem a fama de
Bête Noire das letras francesas, nos apresentou, em “As Partículas Elementares”, o francês do século XXI, em bom rigor o humano produzido pela sociedade de consumo do “mundo livre”. Um “Homem novo” – individualista, consumista e tolo – que vemos hoje em França … e no resto do mundo.

Dos vários actores gauleses interessa particularmente a personagem do Presidente-Partido, melhor dizendo a imagem que dele cá chega, até porque da política francesa concreta escapam-me muitos detalhes. Uma imagem de “novo político”, de “nova forma de fazer política” que encanta lá e cá – belo, jovem, moderno, apolítico, livre dos aparelhos partidários (logo incorruptível, só há corruptos nos partidos). Tantas qualidades num homem só!

Mas, agora, descontente, o cidadão-consumidor reclama:

– Oh, MANU, tanta “esperrrança” depositámos em ti!

– Como podes tu, MANU, tão jovem, belo e ecológico ter uma política fiscal assim?

– Como podes tu, MANU, tão moderno, apolítico e justo defender esta política de rendimentos?

– Como podes tu, MANU, tão peace and love, com uma relação e uma companheira bué à frente deixar os gorilas da república arriar na malta?

É chata esta coisa da política. É preciso fazer opções, aliviar os impostos aos mais pobres ou aos mais ricos, melhorar os rendimentos de quem vive do Trabalho ou do Capital, garantir serviços sociais públicos ou privados (e, pior, o que agrada a uns desagrada a outros). E o Presidente-Partido, apesar de jovem, belo e moderno, optou pelos senhores da massa. Que porra!

À espreita, afiando o dente, aguardando o crescimento das insatisfações e a hora certa, estão os que querem apurar a raça e banir o estrangeiro. A lamber feridas, gaulistas e socialistas; esbracejando, esquerdas várias; modernos, ensimesmados e à procura do sentido da vida em modas isotéricas.

Resta a luta, consequente e organizada, e o correr do tempo, à ascensão sucede o declínio, à tempestade a bonança.

Texto de Francisco Gonçalves

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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