OPINIÃO | A Revolução de Abril – 44 anos depois

25 de Abril é uma data. Data marcada por uma revolução militar pacífica que se iniciou com a música do Zeca Afonso e terminou com cravos vermelhos nas espingardas dos militares. Revolução esta que derrubou o regime vigente há 48 anos, abriu caminho à instauração de um regime democrático, venceu várias resistências, marcou um ponto de honra na história de Portugal e do seu povo e transformou profundamente a nossa sociedade com conquistas políticas, económicas, sociais e culturais. Era um Abril tão ansiado, tão amadurecido e tão sofrido no nosso âmago, lá onde só a esperança e a confiança não morrem, que irrompia das mãos, das bocas e dos olhos. Abril jorrava como um rio, inundando as suas margens com a liberdade, a democracia, a justiça social, a arte, a cultura e a dignidade da cidadania. Um rio que muitos e há muito tempo sonhavam que um dia trouxesse essa grande alegria dum mundo completamente novo.

Recordar Abril é reconhecer que foi com a revolução que conquistamos liberdade, democracia, escola pública obrigatória e alargada, segurança social, serviço nacional de saúde, ordenado mínimo, subsídio de desemprego, contratos de trabalho, justiça, serviços públicos, poder local, cultura, desporto, entrada na CEE, participação das mulheres na vida pública e direito aos direitos. Com a entrada na CEE, os fundos comunitários chegaram-nos em força, é certo que nem sempre foram bem utilizados e rentabilizados, permitindo que se iniciasse o processo de desenvolvimento e modernização. Portugal era até então um dos países mais atrasados em relação à média europeia. Em suma, com o 25 de Abril os portugueses atingiram melhorias significativas na qualidade de vida, deu-se um enorme aumento na literacia e diminuição no analfabetismo, sobrando cerca de 5% quase em exclusivo para alguns adultos e idosos, a entrada no ensino superior atingiu dimensões inimagináveis, aumentando substancialmente as qualificações dos nossos jovens, foi criado o sistema público da educação pré-escolar, abrangendo quase a totalidade das crianças, foi criado o serviço nacional de saúde que muito contribuiu para que a mortalidade infantil diminuísse significativamente e se desse um grande salto no aumento médio da esperança de vida.

Mas recordar Abril é também não aceitarmos retrocessos nem ver sonhos e projetos adiados. As desigualdades sociais persistem, sendo Portugal um dos países mais desiguais da Europa; a pobreza é elevadíssima, estendendo-se aos ativos empregados; a participação do povo na vida cívica e política tem diminuído; o emprego para os jovens escasseia e o existente é precário e muito mal remunerado; a habitação para arrendamento é insuficiente, tendo atingindo valores inacessíveis, fazendo com que os jovens, alguns já com filhos, sejam forçados a viverem em quartos; o serviço nacional de saúde está à beira da rutura, com os profissionais esgotados com o excesso de trabalho e falta de condições, sendo as consultas e as cirurgias bastante demoradas no tempo de espera; e a corrupção aumenta vertiginosamente em todas as esferas da vida.

Mas o Portugal de Abril é inquestionavelmente melhor que antes da revolução, assim como até prova em contrário, a democracia é o melhor regime político.

E aqui chegados, precisamos de consolidar os valores da solidariedade e da justiça social; duma cultura de responsabilidade, seriedade, honradez, verdade, valores que estiveram presentes no espírito da Revolução e que têm estado afastados da nossa democracia; dum Estado ao serviço da sociedade; duma justiça de confiança, transparência e celeridade; de maior dignificação e credibilização do poder político; de maior participação na democracia; e de maior aproximação entre eleitos e eleitores. Também é urgente diminuir as desigualdades sociais, diminuir a elevada burocracia, acabar com a corrupção, acabar com a promiscuidade entre o poder político e jurídico, com o desprezo pela cidadania e com o clientelismo partidário, com a precariedade, os baixos salários e a pobreza.

Em jeito de terminar, estamos em Abril, mês da liberdade e da democracia, mês em que o povo gosta de sair à rua, pois esta continua a ser um espaço político de referência, “onde se faz causa da coisa pública”. Viva o 25 de Abril! Vivam os cravos da nossa esperança!

Texto de Rosa Morais

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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