OPINIÃO | Lavadouro moderno

A Internet é uma das descobertas tecnológicas mais extraordinárias dos tempos modernos. É um sistema global que, através de computadores, telemóveis e outros aparelhos similares, tem a potencialidade de permitir ligar entre si, em simultâneo, toda a população mundial. Inventada há pouco mais de 30 anos e generalizada há cerca de 20 tornou-se uma das maiores manifestações da globalização e é quase impossível imaginar viver sem ela atualmente. Imaginemos como seria viver sem correio eletrónico, informação online e redes sociais.

Porém, como rede global de informação e de utilização, ainda para mais praticamente gratuita para os utilizadores, exige destes uma postura cuidadosa e informada e dos fornecedores de conteúdos um conjunto de requisitos morais e éticos nem sempre presentes, como a verdade e o respeito pelos outros.

Como qualquer descoberta tecnológica e científica, a internet tem aspetos globalmente positivos mas também encerra perigos para os quais os cidadãos e as organizações têm de estabelecer parâmetros, pois a utilização massiva das redes sociais e em espaço aberto, a que qualquer um pode facilmente aceder e dizer o que entender é um dos maiores desafios dos regimes democráticos.

Um dos efeitos mais perversos do uso da internet é a sua instrumentalização por utilizadores espalhando notícias falsas, manipulando a opinião pública e ofendendo a honra e a consideração dos outros. Não faltam exemplos. Nas últimas eleições para a presidência dos Estados Unidos, as redes sociais foram manipuladas, fazendo a apologia do candidato vencedor e denegrindo a principal adversária. A própria Rússia terá manipulado a eleição do país “inimigo” !. Nas últimas eleições autárquicas em Arouca foram criados perfis falsos nas redes sociais e utilizados perfis de utilizadores mais débeis para fazer insinuações e acusações também falsas sobre a candidatura que se antevia ganhadora, tudo para influenciar os cidadãos a votar na candidatura perdedora.

Centremo-nos, agora, no sentido dos comentários que têm proliferado nas redes sociais, especialmente no facebook, sobre o que se passou há dias na freguesia de Moldes, a propósito de uma reunião de compartes para decidir o futuro dos baldios. Um grupo de pessoas decidiu convocar a assembleia de compartes, da qual fazem parte quase 1.200, para um dia à noite e para um espaço onde não cabem mais de 50, esperando certamente que um pequeno grupo por eles mobilizado comparecesse e decidisse. Ao contrário do que esperavam, terão comparecido mais de 200 pessoas, de acordo com as contas mais conservadoras. Por falta de condições físicas e de segurança do espaço reservado, como reconhecem no comunicado emitido, por ausência de alternativa pensada pela organização e por falta de liderança para conduzir a reunião no espaço exterior sem condições e mal iluminado, o que potenciou a confusão e a reação hostil de alguns dos presentes (embora não a desculpe), a assembleia não se realizou. Do que se escreve nos perfis falsos? Da irregularidade dos baldios, da culpa da Junta de Freguesia e dos ataques soezes aos seus membros, atuais e anteriores. Do que não refletem os cobardes escudados no anonimato? De que a mesma Junta foi eleita há alguns meses por maioria absoluta dos eleitores (todos compartes), que na composição ou na génese do grupo que convocou a reunião estavam os concorrentes perdedores em sucessivas eleições e de que modos diferentes de pensar sobre os bens coletivos, no caso os baldios, e que em democracia tem de se respeitar a maioria. A internet transformada em lavouro público moderno dá nisto: manipulação.

Texto de Gomes Ferreira

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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