Nelson Martins, Presidente da Comissão Política do PS de Vale de Cambra

A poucos meses das eleições autárquicas, o Discurso Directo entrevistou o presidente da Comissão Política do PS/Vale de Cambra, Nelson Martins. “Institucionalmente, o PS desaparecera em Vale de Cambra”, assume. Fazer renascer o partido foi uma das razões da sua candidatura. O trabalho desenvolvido pela comissão política, o papel do PS na oposição à Câmara, e a sua ação como Vereador assim como as eleições autárquicas foram alguns do temas abordados durante a conversa. O mandato de José Pinheiro, a polémica do parque de estacionamento e o estado do ensino em Vale de Cambra foram outros assuntos que mereceram destaque.

A oposição do PS à Câmara do CDS-PP e o trabalho da Comissão Política

Discurso Directo – O que motivou a sua candidatura a Presidente da Comissão Política do PS/Vale de Cambra?

Nelson Martins – Candidatei-me à Presidência da Comissão Política (CP) por duas ordens de razões: pessoais e institucionais. Institucionalmente, o PS desaparecera em Vale de Cambra e era urgente que renascesse, pois este é um partido com muitíssimos apoiantes neste concelho de gente trabalhadora e responsável; por outro lado, militantes, simpatizantes ou cidadãos em geral foram-me desafiando, tal como os dirigentes da Federação Socialista… Pessoalmente, o vereador Nelson Martins, sem qualquer apoio das estruturas socialistas locais, jamais deixou de, na Câmara Municipal (CM) ou na rua, ouvir, propor ou contestar sempre que considerou útil a sua cidadania. Mantendo-me fiel aos princípios da legitimidade democrática e da crítica construtiva, sabendo que “a casa socialista” já vivera dias bem melhores, tal como em 1997 na comunidade educativa das Dairas, aceitei a liderança de um desafio nada cómodo, mas bastante aliciante. Devo, todavia, salientar que sempre houve apoio, sessões de trabalho e contactos recíprocos entre o vereador e os outros autarcas eleitos no e pelo PS – Junta de Freguesia de Macieira de Cambra, Assembleia de Freguesia de S.P. de Castelões e Assembleia Municipal (Eng.º Afonso Almeida, Dra. Teresa Gonçalves e Sr. João Paulo Costa), pelo que os representantes do povo sempre estiveram em sintonia.

DD – Que balanço faz do trabalho realizado pela sua Comissão Política?

NM – A competência é da CP em particular e dos socialistas e cambrenses em geral. Contudo, não fujo à questão, pois a autoavaliação faz parte da obrigatoriedade dos atos de quem dirige algo. Em nome da CP, órgão do qual sou o rosto mais visível e o maior responsável pelos atos políticos de todos os seus membros, pode afirmar-se que o balanço é positivo. Falando de eventos, para fortalecer laços, organizámos convívios com candidatos de 2013, com militantes e simpatizantes pelo Natal, ou fomos anfitriões de uma sessão da Comissão Política da Federação de Aveiro. Fomos igualmente recebidos em várias instituições.

DD – Como tem corrido a articulação entre a Comissão Política e os autarcas?

NM – Todos os autarcas eleitos nas últimas eleições têm participado, direta ou indiretamente, na CP, ou por fazerem parte deste órgão ou por nele terem assento sem direito a voto. Desde novembro de 2013 que assumi o compromisso de, formal ou informalmente, promover troca de opiniões entre os eleitos para que, nos diferentes órgãos, os socialistas não parecessem representar-se individualmente. Sendo eleitos pelo povo, devíamos honrar os compromissos com o símbolo socialista que nos conduziu à Câmara, às Assembleias ou à Junta de Freguesia, sendo ou não militantes. «Pela Diferença», partilhamos, discutimos, concordamos ou discordamos; porém, pretendemos exercer cidadania política responsável e esta torna-se mais credível se, como grupo, o soubermos ser.

Autárquicas 2017: “quando passarmos da fase dos rumores às certezas, a população será informada”

DD – Que dinâmica está a sua Comissão Política a desenvolver? Já há candidato à Câmara? E à Assembleia Municipal?

NM – A CP tem procurado ser atendida nos diversos setores da sociedade cambrense, para ouvir o que esta propõe, critica ou exige. Na Democracia de proximidade que o poder local exige, importa servir os anseios da população e não impor ou gerir egoísmos. Fizemo-lo com a educação (agilização no processo de reposição de internet no Centro Escolar do Búzio, sensibilização para autorização de um curso profissional, colocação de passadeira em frente à “Escola Secundária”), em parte já o fizemos com a saúde (extensões de saúde de Arões e de Junqueira, Unidade de Cuidados Continuados) e continuaremos nessa direção, pois o caminho faz-se pela auscultação do cidadão anónimo e das preocupações manifestadas pelas imensas instituições que, no nosso concelho, zelam pelo bem estar físico e psíquico da população.

Relativamente à candidatura à Câmara Municipal alguns passos foram dados, mas outras passadas caberão, por exemplo, à Federação, pelo que, sendo um assunto importante terá o seu tempo certo para a pública divulgação. Quanto à Assembleia e às nove Juntas de Freguesia, também a CP deverá, a seu tempo, pronunciar-se, podendo os cambrenses ter a certeza do PS apostar em cidadãos com evidentes provas dadas ao serviço da população. Quando passarmos da fase dos rumores às certezas, a população será informada, realçando que, mais do que “nomes”, o PS apresentará aqueles/as que não temam o desafio de lutar pela colocação do concelho de Vale de Cambra entre os mais desenvolvidos do país, pois em termos de crescimento há vários anos já o é.

DD – Qual é a estratégia para as candidaturas às Juntas de Freguesia?

NM – Especificamente sobre as Juntas de Freguesia, a estratégia geral passa pela auscultação de munícipes em articulação com apoiantes e candidatos/as. O PS, não impondo um plano de ação, considerará a realidade de todas as freguesias, ao mesmo tempo como um todo e separadamente.

Câmara: entre elogios, interrogações e críticas

DD – Quais os aspetos (que podem ser positivos, ou negativos) destaca da gestão de José Pinheiro? Que visão crítica tem do trabalho do Executivo e da Assembleia Municipal? E a ação política das outras bancadas?

NM – O executivo do CDS-PP, eleito numa conjuntura muito especial, teve o mérito de evidenciar uma redução da dívida do município ou de adquirir o edifício do antigo cinema, tentando, principalmente durante a vigência do anterior governo, dar alguma visibilidade mediática ao município, ou aparecendo mais junto das populações e dos que, no movimento associativo, vão dinamizando coletividades e perpetuando hábitos culturais. Não tendo dúvidas de que fez o melhor que sabia, considero que este tem sido um mandato reativo e de gestão corrente, perdendo-se oportunidades de, usando o seu slogan, «Fazer Crescer Vale de Cambra». Onde está um plano que evidencie o que se pretende para o espaço do antigo cinema? Porque não avançou a rasgada via de ligação da EN 328 ao Santuário da Senhora da Saúde? Que interesse público está salvaguardado com as obras de transformação do Centro Escolar do Búzio em estabelecimento de ensino do pré – escolar e do primeiro ciclo, depois dos milhões gastos na sua requalificação? Porque se gasta cerca de metade do orçamento no pagamento a pessoal e na contratualização de serviços? Quantos milhares pagou o município para promover um hipermercado ou produtores de carne bovina exteriores ao concelho? Porque não se defendeu o município numa ação colocada em tribunal por um munícipe, que exigia compensações por eventuais danos causados no seu imóvel aquando da construção do Parque da Cidade? Visão estratégica de longo curso ou sobrevivente navegação à vista?

Na Assembleia Municipal (AM), fórum de discussão e órgão de fiscalização, a bancada do PS pauta-se pelo debate de ideias e pela apresentação de propostas, tendo o executivo considerado algumas, já que os deputados socialistas, liderados pelo independente Afonso Almeida, evidenciam a política como procura do bem comum e não como bota abaixo. Na AM ou na CM, o PS não hesita em concordar, independentemente das cores políticas dos adversários (CDS-PP e/ou PSD), sempre que as propostas destes demonstrem propósitos de bem servir a população. Sem interesses particulares, e sem passado ligado a erros de gestão autárquica, os eleitos no PS têm sabido dar-se ao respeito, contribuindo para um saudável clima de debate político.

DD – Como caracteriza o atual estado de desenvolvimento do concelho? Qual o principal entrave?

NM – Vale de Cambra é um bom exemplo de um concelho com muito crescimento económico: grandes taxas de empregabilidade; vários grupos empresariais onde a componente familiar fortalece os laços com a comunidade; acessibilidades rodoviárias para norte e centro (carecem já de manutenção e de reestruturação). Porém, constata-se que, para nós, os principais entraves a um maior desenvolvimento do concelho, são, entre outros: incapacidade para assumir responsavelmente decisões; ausência de um estudo que fundamente a implementação de um plano de atuação capaz de envolver a generalidade das forças vivas; esquecimento das populações mais afastadas do centro decisor do vale; ausência de redes de água e de esgotos nas zonas mais interiores; falta de lideranças geradoras de contágios que facilitem a comunhão geral de interesses dos cambrenses. Pensando no concelho como parte importantíssima do Entre Douro e Vouga e da região do Grande Porto, é urgente manter dinâmicas que nos continuem a identificar como polo industrial nacional e internacionalmente reconhecido, melhorando e potenciando o aproveitamento dos recursos naturais deste concelho, próximo do litoral e tratado como um apêndice descartável do interior.

O buraco do Parque de Estacionamento”

DD – O que pensa da polémica sobre o parque de estacionamento e que envolve a Câmara Municipal?

NM – Sobre o buraco do Parque de Estacionamento, que hipotecou o futuro próximo, a CP pronunciar-se-á oportunamente, pois há variáveis desconhecidas do comum dos cidadãos que devem ser evidenciadas.

DD – Enquanto professor que análise faz da educação em Vale de Cambra?

NM – Tendo alguma experiência no assunto, em resultado de três décadas a lecionar ou de dezoito anos na gestão e administração de escolas, só me apraz dizer: é urgente sentir a escola como ferramenta para que o futuro adulto possa lutar pelo seu destino, respeitando e solidarizando-se com o outro.

Texto e fotos: Andreia Borges

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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