OPINIÃO | A LUTA DOS PROFESSORES

“… Afinal, quem me emprestou aquela batelada de dinheiro não foi o Carlos Santos Silva, mas sim a minha professora primária, a professora Arminda, que sempre acreditou no meu potencial. Ela lia as minhas composições e dizia – Zé, já te estou a imaginar na Sorbonne a fazer o mestrado e a escrever sobre o carisma e coisas assim!

– E ela tinha capacidade financeira para lhe emprestar assim tanto dinheiro?

– Tinha pois! Não se esqueça de que ela era uma professora primária na Covilhã! Ao longo da carreira juntou para cima de 50 milhões de euros! Eu, de vez em quando, ia ter com ela e dizia-lhe – Oh Professora!, precisava aí duns 5 ou 10 milhões. Para o mês que vem já lhe devolvo. E ela emprestava de boa vontade.

– E o apartamento em Paris também era dela?

– Não, lá estão vocês! O meu apartamento em Paris era do meu professor do Liceu, o professor Artur, tinha apartamentos em todo o lado – Paris, Londres, Nova York…”

PORTUGALEX, 20 de Setembro de 2018

A luta dos professores, concretamente a recuperação dos 9 anos, 4 meses e 2 dias foi transformada pelo governo numa questão primeira do tempo político presente. E tudo valeu e serviu para tentar virar a opinião pública contra a pretensão dos professores. Até um estudo da OCDE e as suas leituras deram para o peditório.

O que está em cima da mesa é muito simples – ou os professores recuperam esse tempo e podem aspirar a ter uma carreira, isto é a possibilidade de chegar ao 10º escalão ou não. Cada professor está dois escalões e meio abaixo do lugar que devia estar ou só chegou ao lugar onde já devia estar com 10 anos de atraso (no caso dos poucos que chegaram ao 10º escalão).

Um professor com 45 anos de idade e 20 de serviço está, hoje, no segundo escalão, numa carreira com dez. Sem contar os 9A 4M 2D e com o tempo que perdeu nas transições de carreira do tempo de Maria de Lurdes Rodrigues e os anos que patinará no acesso (por vaga, tal como no 7º) ao 5º escalão, aposentar-se-á com 70 anos de idade a meio da carreira, após uma vida de trabalho ouvindo estudos autorizados (e científicos, claro está) a colocarem-no no 10º escalão aos 34 anos de serviço. Com meia carreira docente não se espere uma Escola Pública inteira.

Percebe-se o conforto de António Costa. Vê, no horizonte, a maioria absoluta (que provavelmente não pedirá, apesar de para ela estar a trabalhar) ou, até, a quase maioria absoluta em que com uma aliança a dois, metendo um D ou um BE na sigla, governativa ou legislativa, terá maioria, ele (PS) em crescimento e o aliado a mingar. Por isso, estica a corda.

Para os mais distraídos convém lembrar as singularidades da presente legislatura. A PaF foi a força mais votada mas não tinha nem conseguia fazer maioria. O PS foi a segunda força mais votada e com a excepção de um acordo com o PSD (a força maior da PaF e a ela agarrada) só conseguia fazer maioria a três. E isto fez toda a diferença! As eleições de 2019 terão, forçosamente, um novo resultado. Mas essa é uma questão para os portugueses em geral. Para os professores o que importa, neste momento, é a luta, até porque o orçamento ainda não está aprovado e até ao lavar dos cestos é vindima.

Texto de Francisco Gonçalves

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
Partilhe este artigo
Relacionados
Newsletter

Fique Sempre Informado!

Subscreva a nossa newsletter e receba notificações de novas publicações.

O envio da nossa newsletter é semanal.
Garantimos que nunca enviaremos publicidade ou spam para o seu e-mail.
Pode desinscrever-se a qualquer momento através do link de desinscrição na parte inferior de cada e-mail.

Veja também