OPINIÃO | Aviltante!

Há pouco mais de um ano escrevi um texto, neste espaço, sobre a temática do momento, os incêndios: “não rescaldar a memória”. Levantei muitas preocupações pessoais tal como perguntas que a sociedade portuguesa deveria querer ver esclarecidas. O que é certo é que cada ano que passa é bem pior. Este ano faleceu cerca de uma centena de pessoas! Onde se viu tal tragédia? Já não falo nos prejuízos materiais avultadíssimos e alguns irreversíveis: 351 mil hectares ardidos, nos quais se incluem habitações, animais, fábricas, carros, todo o tipo de máquinas, etc.!

O que me continua a preocupar é a passividade do povo português perante esta tragédia, perante a corrupção, perante…

O exemplo da Galiza é sintomático: tal como em Portugal, foi atingida por violentos incêndios. Segundo a comunicação social faleceram 4 pessoas. A diferença é que saíram à rua milhares de pessoas em protesto, Santiago de Compostela, Vigo e Ourense, contra a política florestal. Foram entoados cânticos direcionados para o executivo considerando-o “incompetente”. O que daí­ resulta não sei. Pelo menos fica registada a manifestação pública de milhares de pessoas pelo desagrado e indignação pela atuação passiva e ilusória dos seus governantes.

Nós, pelo contrário, como sempre, cordeirinhos, bem mandados. Está a custar muito, mesmo muito, “limpar os glóbulos” do nosso sangue marcado por décadas de ditadura. Para quando uma “transfusão” de um novo sangue? (Pode ser que meia dúzia se manifeste por influência dos nossos vizinhos)

É minha convicção que o “desenho” da nossa escola tem como principal objetivo o desincentivo ao pensamento, à reflexão, à criatividade e à crítica! Sem estas dimensões não avançamos e pomos em causa a nossa liberdade e dignidade.

Mas o que interessa à  classe política é uma sociedade mal formada e, por isso, facilmente manipulada. Essa classe, cada vez mais, vive da campanha permanente. O que significa? Muito simples: viver num permanente exercício de persuasão e tomada de decisões específicas tendo sempre em vista a vitória eleitoral no final de mandato. Ao outro dia das eleições começa um novo trabalho de campanha para a eleição seguinte… 

O que se espera, quer seja da política nacional ou da local, é que governe. Governar é tomar decisões, deliberar e não ter como objetivo último ganhar as próximas eleições. É um processo permanente e duradouro. Governar é ter a coragem de decidir para o bem comum. Estar permanentemente em campanha é pensar curto e uma atitude egoísta; implica, a todo o custo, criar uma imagem e estratégia para manter o consenso e a popularidade perante os eleitores e a opinião pública.

Não tenho a menor dúvida que esta atitude leva as pessoas a afastarem-se da política e a duvidarem dos políticos; conduz ao declínio dos partidos e de muitas instituições públicas; faz persistir o permanente atraso das populações e do país; faz com que não haja saúde, educação, justiça, produção, economia e cultura de qualidade; faz com que estas e outras catástrofes perdurem. Também cria a necessidade de empresas de marketing e comunicação política aperfeiçoem a sua prestação para manter os políticos no poder manipulando a sociedade.

Basta recordar esta última, triste e vazia, intervenção do Primeiro Ministro de Portugal sobre os incêndios…

Carlos Matos

sobre o autor
Ana Isabel Castro
Discurso Direto
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