Por incrível que pareça, política e futebol estão cada vez mais parecidos, e cada vez mais próximos do desencantamento.
O futebol parece ter cada vez menos resultados verdadeiros, e a omnipresença dos comentadores televisivos, com a acidez tendenciosa habitual, começa a aproximar-se da náusea. Deixou de existir a magia dos relatos de domingo à tarde, dos rasgos geniais dos grandes craques, dos dérbis disputados de peito aberto, das discussões sobre os argumentos técnicos e tácticos de cada equipa. Agora, é o penálti roubado, o resultado ditado pelas apostas, as declarações deste ou daquele sobre o árbitro, os milhões das transacções.
Quanto à política, que dizer? Quando os interesses de quem elege são rapidamente substituídos pelos de quem é eleito. Quando o que importa é gerir as coisas com o horizonte dos mandatos, e não do que é melhor para o bem comum. Quando o importante é defendermos o nosso ‘clube’, mesmo que as posições defendidas não sejam as melhores. Quando os assuntos a debater são os menos importantes, e são debatidos de uma forma truncada, superficial e parcial. Quando assim é, pouco há a dizer.
Talvez seja por tudo isto (e muito mais) que o desencantamento vai tomando conta de nós. E talvez por tudo isto (e pelo ‘muito mais’, também) é que vai ser cada vez mais difícil encontrar gente disposta a lutar contra isto, a querer envolver-se, a querer demonstrar que pode ser-se competente na política. Porque o manto de dúvida, obscuridade e desconfiança que cobre a política é exactamente da mesma cor e do mesmo tamanho do que cobre, hoje, o futebol. Porque, no fim, ‘ganha sempre a Alemanha’. Porque foi em quem alguém apostou, apoiou e encontrou forma de fazer com que ganhasse. Às vezes, sem jogo, ou com o jogo comprado. E nós, vamos falando do árbitro, dos jogadores que não correm ou dos maus treinadores.
Na política, como no futebol, talvez valha a pena falar, antes, sobre os dirigentes. E, já agora, também do ‘sistema’.
Ivo Brandão
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